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São Gonçalo do Sapucaí, Minas Gerais

Conversas de Bageira

"daí a um tempo chegue a ser a mestra, a fértil, a dona do aguilhão contínuo, a mãe que um dia ensinará as outras abelhas a contar" Matilde Campilho

Bageira compõe um conjunto de projetos pensados a partir dos mitos, lendas, histórias e boatos de uma cidade do interior, São Gonçalo do Sapucaí, minha cidade natal. Uma teia narrativa construída através das contações de histórias de tradição oral que apresenta, abriga e reconta o imaginário cultural caipira. Os projetos relacionam ficções à escrita historiográfica oficial e apresenta doze obras de arte espalhadas em pontos referenciais da cidade, compartilhadas de forma virtual ou imaginária.

desconstruir os limites territoriais podem mover a instituição da arte e provocar uma reinvenção institucional?

narrar histórias que nasceram de outras histórias pode construir um lugar para imaginar outros possíveis? 

ao problematizar estruturas delimitadoras, um convite é lançado. Ao ressignificar a memória histórica, um espaço para o pertencimento é aberto e algo pode acontecer

como elaborar novos arranjos para tensionar as normas hegemônicas?

O projeto transborda pelas ruas de São Gonçalo do Sapucaí a partir de 12 eixos. Trata-se de lugares simbólicos, memórias, monumentos ou referências para a cidade.

encontro-tratos

residência

CAFÉ

parcerias

RAUS café

livro

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"no elevador penso na roça, na roça penso no elevador" Drummond

Como criar modos de produzir sentido junto a comunidade?

Escolho produzir dentro do interior uma coleção de trabalhos indissociáveis da cidade de São Gonçalo do Sapucaí. Bageira apresenta um lugar além do espaço físico territorial, porque as relações produzidas em seu contexto desobedecem a lógica material imposta pelo capital. 

Nomeio e compreendo esse lugar afetivo como Tratos, acordos que são concretizados por meio de troca e envolvimento. 

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PARTICIPE DO PROJETO BAGEIRA

 

Se você deseja uma unidade do produto/ obra, eu farei a entrega pessoalmente. Podemos tomar um café juntos enquanto compartilhamos histórias de Bageira. Entre em contato pelo WhatsApp, clique aqui!

A árvore que virou canoa, 2023-2022 | Livro de artista, registros de encontros e contação de histórias 

Bageira objetiva construir um espaço que não está circunscrito pela instituição cultural. Propõe uma cartografia entre a metrópole e o interior, estabelecendo proximidade entre ambos, por meio de um sistema de trocas que reconhece a instituição e a produção cultural fora do eixo artístico tradicional.

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Conversas de Bageira, 2023-2022 | Exposição no RAUS Café foi programada por meio de um trato não comercial a partir de um Encontro de Bageira com Felipe Resende. A cafeteria é localizada no centro financeiro da cidade de São Paulo, no Pátio Victor Malzoni, o espaço recebe um público majoritariamente corporativo.  O trabalho exposto aborda, apresenta e confabula sobre as formas de trabalho no campo, do pensar e fazer caipira. 

O Caipira - homem que carpe a terra - analisando a etimologia da palavra e seu uso ao longo da história, o termo, desde sua origem, é enraizado socialmente de forma pejorativa, referindo-se ao sujeito preguiçoso e incivilizado. Durante o Governo Vargas em 1940 foi utilizado para atrair o morador do campo para a cidade e atribuir a ele um novo tempo, o tempo do relógio.   

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Chegue logo, 2023-2022 | A carta endereçada a Eleonora Fabião contém rascunhos de escrita arquivadas durante um ano para a artista.

ações

Lago Piscina

vídeos

contação de histórias

[...] Não era uma dessas árvores imponentes que mencionei. Era tênia, estava em uma pequena ilha no centro do lago, seus galhos estavam quebrados, quase não possuía folhas, mas executava uma função indispensável. Às 5 horas da tarde, começava a receber centenas de gaivotas, que chegavam aos bandos. Ouvíamos o barulho vindo do alto no céu e rapidamente elas desciam. O peito dos pássaros quase encostava na água parando apenas quando encontravam um espaço entre os galhos. Um dos moradores à beira d'água se chateou com o alvoroço que o impedia de assistir seu programa esportivo naquele mesmo horário, estando possesso resolveu com fogo. [...]

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Sapucaia, 2022 | Ações. Negociar e vender rifa premiada com o registro da própria obra (fotografia e certificado), com o dinheiro comprar uma muda de árvore Sapucaia, transportar a muda junto dos moradores em caminhada, atravessar o Lago Piscina em barco, plantar a muda no centro da ilha. 

Por meio de contação de histórias as ações que envolvem o plantio da árvore fomentam o diálogo sobre o símbolo da árvore Sapucaia, estreita e materializa sua relação com o imaginário local ao propor o plantio da árvore no denominado Tanque ou Piscina no Bairro de Nossa Senhora de Fátima, local carregado de lendas desde o período colonial. 

Sapucaia propõe maneiras de pensar e fabular sobre o próprio nome da cidade São Gonçalo do Sapucaí. O estudo e as conversas pretendem contextualizar, apresentar e reler a importância simbólica da espécie no imaginário local. Levantar e re-apresentar no contemporâneo sua relação histórica com a cidade por meio de novas histórias.

Tenho interesse em pensar e criar lugares imaginários que podem desconstruir espaços delimitados e determinados, nesse sentido, Bageira usufrui da potencialidade da oralidade, sendo esta independente de qualquer tipo de controle, expansível, densa e profunda.

Rio Que Grita, 2021 - 2023 | Série de vídeos que apresentam narrativas que dialogam entre o interior, São Gonçalo do Sapucaí, e a metrópole, São Paulo. 

Faixa-Azul

Queijo

instalação

Maturando  a memória, 

para lidar com a memória,

maturando o tempo, 

para lidar com o trabalho maturado, 

maturando as palavras, 

para escrever maturando o texto, 

parar ser artista maturando meu eu e o outro.

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Faixa Azul, 2021 | Instalação, ação e poema | Caixas de maturação de queijo, peças de queijo parmesão em diferentes fases de maturação. Visitar a exposição semanalmente, contar sobre o processo, cortar o queijo maturado e oferecer ao público presente.

Rio Sapucaí

frases

tratos - caminhoneiros

[...] Uma árvore de quase trinta metros de comprimento, localizada na praça na frente da igreja matriz da cidade de São Gonçalo do Sapucaí, indicava um ponto de encontro e o centro da cidade. Apelidada de Bageira, a árvore ao morrer no ano de 1956 virou canoa para poder tocar o rio Sapucaí, o Rio Que Grita. 

Uma fotografia registrou o momento do abate, vinte dois homens compõem a cena, a lente da câmera não capturou a garotinha que rapidamente enfiou um pedacinho da madeira no bolso, minha avó materna, Creusa. 

Hoje a pequena lasca do tronco é relíquia, poderia ser comercializada, muitos a desejariam [...] 

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Escoar, 2021 | Frases em para-choque de caminhões - SAPUCAÍ DO TUPI-GUARANI RIO QUE GRITA - BAGEIRA A ÁRVORE QUE VIROU CANOA - A CIDADE DO QUEIJO FAIXA-AZUL

As frases pretendem refletir sobre a identidade cultural de São Gonçalo do Sapucaí e sua representatividade social. Ao instigar o público que se depara com a frase no veículo transitando dentro e fora das fronteiras do município, Escoar construí uma cartografia intangível sobre a cidade e propõe outros modos de pensar e discutir sobre sua historiografia.
 

caixas para contar

oficinas culturais

Bárbara Heliodora

ciriema-caipira

[...] A mancha branca se aproxima e encobre a serra. Escuto os voos rasantes dos pássaros em direção aos ninhos escondidos nas copas das árvores. Eles estão agitados, parecem temer o encontro com os pingos fortes e densos. O som intenso das gotas tocando as folhas faz meu ouvido ficar tampado por alguns segundos, enquanto a água molha a estrada de terra mudando sua tonalidade, o pó marrom-claro eleva-se junto com o cheiro de chuva [...]

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Macaco velho não mete a mão em cumbuca, 2022 | Contação de histórias, cumbuca, peças e trilha sonora.

Macaco velho não mete a mão em cumbuca, refere-se a ação dos pequenos macacos ao tentar colher os frutos da árvore Sapucaia de uma só vez, suas mãos ficam presas dentro das cumbucas provocando tensão e queda das suas sementes. 
A contação de histórias em Macaco velho não mete a mão em cumbuca permeia os mitos, boatos, histórias e lendas de São Gonçalo do Sapucaí confabula sobre os modos de pensar e contar sobre a historiografia da cidade. Uma teia narrativa construída a partir da linguagem do causo caipira.

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[...] Ciriema-caipira é uma ave de pernas muito compridas nascida na cidadezinha de São Gonçalo do Sapucaí, no sul de Minas Gerais. Segundo relatos ela estava cansada da sua rotina a beira do Sapucaí. Se queixava do rio pequeno demais para voos rasantes e da comida minguada demais nos pastos, até mesmo dos vizinhos ribeirinhos ela difamou, os considera fofoqueiros demais. 

Reclamona mas, muito destemida ela elaborou um grande plano para conhecer o maior lugar do mundo, o mar. A última pessoa que a viu pelas bandas de lá contou que ela saiu fugida da roça do Senhor Chiquito escondida dentro do motor de uma caminhonete identificada pelo símbolo preto e branco adesivado em sua carroceria [...]

Ciriema-caipira, Dragão-azul e Peixe-morcego, 2022 | Oficinas infantis em escolas e centros culturais 

Bageira é um lugar de encontro, de troca, uma teia de narrativas que podem ser absorvidas e permeadas conjuntamente. Os trabalhos que compõem o projeto criam corpo na contação de histórias e estão sujeitos a receber intervenções e reverberações. Acredito que uma boa história é água corrente, podendo receber a árvore que virou canoa.

“Com a chave na mão

quer abrir a porta,

não existe porta;

quer morrer no mar,

mas o mar secou;

quer ir para Minas,

Minas não há mais.

José, e agora?” 

 Drummond

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LIVRO

expor

Enxergo a necessidade de se criar e reconhecer sistemas de troca e fomentação de arte fora do eixo metropolitano, confabulando por meio do imaginário caipira dentro e fora do interior, compreendendo fronteira como um campo de intersecção entre leitos de rios, onde não cabe uma verdade e não deve ser confundida com o falso.

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